Resumo O presente artigo tem por objetivo desenvolver uma reflexão acerca da relação entre o fazer etnográfico e a prática docente no interior de instituições de controle social. Para isso, será explorada a posição ocupada pelo pesquisador enquanto professor que leciona em unidades de internação da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), local onde os adolescentes que cometem atos infracionais são enviados para cumprirem medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O envolvimento dentro da rotina da instituição permite que a narrativa seja construída por meio de um movimento simétrico, em que o professor pode experimentar e ser afetado pelos diferentes dispositivos que buscam se territorializar nas unidades. Por ser tratar de um ambiente de controle social marcado por relações conflituosas, a descrição etnográfica simétrica assume uma perspectiva tensa, pois a prática docente e a construção de vínculos no interior da instituição apresentam uma série de riscos e perigos, que podem levar o professor a ser cooptado pelas forças normativas que compõem os coletivos dos funcionários e dos adolescentes. Quando isso acontece, o professor deixa de construir uma postura mediadora de simetrização, ao mesmo tempo em que acaba se tornando um intermediário que fortalece os coletivos que buscam dominar a rotina institucional. Sendo assim, a prática docente nas unidades da Fundação CASA caracteriza-se como um exercício arriscado, na medida em que a qualquer momento o professor pode se transformar em um arrastão ou em um lagarteado. Em um caso, ele é mais um operador das normas institucionais, no outro, o professor perde o limite do envolvimento com os adolescentes e passa a atuar de acordo com a vontade dos jovens.
Abstract This article aims to reflect on the relation between ethnographic doing and teaching within institutions of social control. For this, it explores the researcher’s position as a teacher who works in detention units of Fundação CASA, where socio-educational measures provided by Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Child and Adolescent Statute) are applied to adolescents who commit offenses. Involvement in the routine of the institution allows the narrative to be constructed in a symmetrical movement, in which the teacher can experience and be affected by the different devices that seek to territorialize the units. Because that is a social control environment marked by conflicting relations, symmetrical ethnographic description assumes a tense perspective, since in the teaching practice and the construction of bonds within the institution there is a number of risks and dangers, which can lead teachers to be coopted by normative forces of the collective of officials and adolescents. When this happens, the teacher fails to build a mediating attitude of symmetrization, and becomes an intermediary who strengthens the collectives that seek to dominate the institutional routine. Thus, teaching at Fundação CASA units is a risky exercise, in that at any time the teacher can become an arrastão or a lagarteado. In the first case, he becomes just another operator of institutional norms, and, on the second, the teacher loses the limit of involvement with adolescents and starts to act according to their will.